BRUXARIA
A palavra bruxaria, segundo o uso corrente da Língua Portuguesa, designa as
com intenção que ultrapassa os conceitos "morais" da época. É também utilizada
como sinônimo de curandeirismo e prática oracular, bem como de feitiçaria.
sistemas que variam de uma deidade única hermafrodita ou feminina à
assírio, greco-romano e normando (viking).
Feiticeiro seria aquele que realiza feitiços, seja ele designado como bruxo ou não,
e feitiço, o gênero de magia cujo objetivo é interferir no estado mental, astral,
físico e/ou na percepção que outra pessoa tem da realidade. A magia,
incluindo a feitiçaria, faz parte do conhecimento preservado pelos bruxos,
muito embora não seja o foco central da bruxaria.
É conveniente notar que Bruxaria é algo diferente e independente do
Paganismo e do Neopaganismo, apesar de muitos confundirem estes em
função da corrente moderna de hibridização de cultos.
Há uma grande confusão, entre os leigos, acerca de bruxaria tradicional
e moderna.
A bruxaria tradicional tem suas raízes nos cultos a deidades pertencentes a determinadas áreas geográficas, que podem datar de períodos pré-históricos,
o que pode torná-la em parte irmã ou filha de antigas práticas e cultos
xamânicos. Historicamente, o papel social das bruxas tradicionais era
basicamente a prestação de auxílio à população: como adivinhas, parteiras,
curandeiras, conselheiras ou até mesmo alcoviteiras.
A literatura pré inquisitorial apresenta a bruxa, entretanto, como uma figura
cercada de brumas: uma eremita das florestas (imagem das bruxas preservada
nos contos de fadas), moradora de ilhas misteriosas (como Circe) ou
personagens de quem pouco se esclarece (contos árabes). Poderia curar
ou matar através de poções ou filtros e agia em concordância com a moralidade
típica da natureza, incompreensível aos não bruxos, no seu entender, indomada, caótica e imprevisível. Entre as artes pelas quais são conhecidas em tais
contos estão a necromancia (ou nigromancia), que é o contato com os
espíritos dos mortos, elementais, deidades e demais entidades presentes
em outros planos da existência, a adivinhação e o conhecimento do potencial
das ervas. Poderiam concomitantemente servir como sacerdotisas de algum culto
, mas não necessariamente, sobrevivendo à ação do tempo e mudança da
mentalidade do povo, e até mesmo à chegada de novas religiões, às quais
teriam se adaptado para dar continuidade a esta tradição. Como tal, em tais
contos a Bruxaria Tradicional não se definiria necessariamente como religião,
mas como tradição circunscrita a um limite geográfico.
Porém, paralelamente às histórias mitológicas e de ficção, algumas poucas
linhagens de bruxaria tradicional sobreviveram à inquisição e, como toda
associação de pessoas, evoluíram ao longo do tempo. Tenha ou não sido
importante às bruxas e bruxos da Antiguidade e da Idade Média, hoje é
indubitável que o cerne da bruxaria tradicional é a interação com as deidades,
da mesma forma que qualquer religião.
A bruxaria moderna, por outro lado, embora se relacione firmemente com a
Bruxaria Tradicional, surge historicamente com Gerald Gardner, com a
criação da Wicca no ano 1950 da Era Comum. Apesar de a bruxaria
tradicional ter absorvido elementos modernos às suas raízes folclóricas e
evoluindo continuamente, seu eixo fundamental é bastante distinto do da
bruxaria moderna, pois Gardner não apenas adotou novos elementos,
mas tornou alguns destes em bases fundamentais da Wicca, amalgamando-os
de forma indissolúvel em um hibridismo com cultos pagãos e conceitos
de origem oriental. Agrava-se a confusão entre bruxaria moderna e bruxaria
tradicional ao ter se tornado recorrente o uso da expressão "wicca tradicional"
para designar aqueles cuja linhagem iniciática remonta a Gerald Gardner.
A Bruxaria, sendo caracterizada pela liberdade de pensamento, acaba por
apresentar um amplo leque de linhas de pensamento e de vertentes de
características bastante distintas, entretanto, alguns elementos em comum
podem ser apresentados a fim de que se tenha melhor compreensão do
significado da bruxaria. Elencamos dois princípios comuns, em especial,
que ao mesmo tempo que ajudam a compreensão, afastam conceitos
equivocados calcados em histórias infantis e preconceitos medievais
à prática da bruxaria.
A caça às bruxas foi uma perseguição social e religiosa que começou no final
da Idade Média e atinge seu apogeu na Idade Moderna. O mais famoso manual
de Caça às Bruxas é o Malleus Maleficarum (Martelo das Feiticeiras), de 1484.
No passado os historiadores consideraram a Caça às Bruxas européia como um
ataque de histeria supersticiosa que teria sido forjada e espelhada pelo
Cristianismo. Seguindo essa lógica, era "natural" supor que a perseguição teria
sido pior quando o poder da igreja era maior, ou seja: antes da Reforma
Protestante dividir a cristandade ocidental em segmentos conflitantes.
Nessa visão, embora houvesse ocorrido também julgamentos no começo
do período moderno, eles teriam sido poucos se comparados aos supostos
horrores medievais. Pesquisas recentes derrubaram essa teoria de forma bastante
clara e, ironicamente, descobriu-se que o momento mais forte da histeria contra
Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno reconheciam
o poder das bruxas e, em função disso, formularam leis proibindo que crimes
fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção,
e podemos encontrar as caças às bruxas desde o auge da civilização babilônica.
Esta suspeita costumava recair sobre as mulheres estrangeiras e suas estranhas
práticas.
As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. Pouco
depois de 1300, na Europa Central, começaram a surgir rumores e pânico acerca
de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através
de magia e envenenamento. Falava-se de conspirações por parte dos muçulmanos e
de associações entre judeus eleprosos ou judeus e bruxas. Depois da enorme devastação decorrente da peste negra (que vitimou 1/3 da população européia
entre 1347 e 1350) esses rumores aumentaram e passaram a focar mais em
supostas bruxas e "propagadores de praga".
Casos de processo por bruxaria foram aumentando lentamente, mas de forma
constante, até que os primeiros julgamentos em massa apareceram no Século XV.
detalhadamente os registros históricos de julgamentos, ao invés de confiar
apenas
nos relatos dos casos mais famosos e outras fontes pouco seguras. A nova
metodologia trouxe mudanças significativas na compreensão que se tinha
deste período. Vejamos algumas das ideias chaves dessa nova visão:
A "Caça às Bruxas" na Europa começou no fim da Idade Média e foi um
fenómeno religioso e social da Idade Moderna. A situação assumiu tamanha
dimensão, também devido às populações sofrerem frequentemente de maus
anos agrícolas e de epidemias, resultando elevada taxa de mortalidade,
e dominadas pela superstição e pelo medo. A maior parte das vítimas foram
julgadas e executadas entre 1550 e 1650. A quantidade de julgamentos e a
proporção entre homens e mulheres condenados poderá variar consideravelmente
de um local para o outro. Por outro lado, 3/4 do continente europeu não
presenciou nem um julgamento sequer. A maioria das vítimas foram
julgadas e executadas por tribunais seculares, sendo os tribunais locais,
foram de longe os mais intolerantes e cruéis. Por outro lado, as pessoas
julgadas em tribunais religiosos recebiam um melhor tratamento, tinham
mais chances de poderem ser inocentadas ou de receber punições mais brandas.
O número total de vítimas ficou provavelmente por volta dos 50 mil, e destes,
cerca de 25% foram homens. Mulheres estiveram mais presentes que os homens,
e também enquanto denunciantes, e não apenas como vítimas. A maioria das
vítimas eram parteiras ou curandeiros; mas a maioria não era bruxa. A grande
maioria das vítimas eram da religião cristã, até porque a população pagã na
Europa na época da caça às bruxas, era muito reduzida.
Estudos recentes vêm apontar que muitas das vítimas da "Caça as Bruxas",
bem como de muitos "casos de endemoniados", teriam sido vítimas de uma intoxicação. O agente causador era um fungo denominadoClaviceps purpurea,
um contaminante comum do centeio e outros cereais. Este fungo biossintetiza
uma classe de metabólitos secundários conhecidos como alcalóides da
cravagem e, dependendo de suas estruturas químicas, afectavam profundamente
o sistema nervoso central. Os camponeses que comeram pão de centeio
(o pão das classes mais pobres) contaminado com o fungo, eram envenenados
e desenvolveram a doença, actualmente denominada de ergotismo.
Em alguns casos, também verificou-se alegações falsas de prática de "bruxaria"
e de estar "possuído pelo demônio", com o fim de se apropriar ilicitamente
de bens alheios ou como uma forma de vingança
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