domingo, 19 de fevereiro de 2012


BRUXARIA 

A palavra bruxaria, segundo o uso corrente da Língua Portuguesa, designa as 
faculdades sobrenaturais de uma pessoa que geralmente se utiliza de ritos mágicos
com intenção que ultrapassa os conceitos "morais" da época. É também utilizada 
como sinônimo de curandeirismo e prática oracular, bem como de feitiçaria.
Para os bruxos atuais, contudo, a bruxaria é o culto à Deusa e/ou ao Deus em
 sistemas que variam de uma deidade única hermafrodita ou feminina à 
pluralidade depanteões antigos, mais notadamente os panteões celtaegípcio,
Feiticeiro seria aquele que realiza feitiços, seja ele designado como bruxo ou não,
 e feitiço, o gênero de magia cujo objetivo é interferir no estado mental, astral,
 físico e/ou na percepção que outra pessoa tem da realidade. A magia, 
incluindo a feitiçaria, faz parte do conhecimento preservado pelos bruxos,
 muito embora não seja o foco central da bruxaria.
É conveniente notar que Bruxaria é algo diferente e independente do 
Paganismo e do Neopaganismo, apesar de muitos confundirem estes em
 função da corrente moderna de hibridização de cultos.

Há uma grande confusão, entre os leigos, acerca de bruxaria tradicional
 e moderna.
 A bruxaria tradicional tem suas raízes nos cultos a deidades pertencentes a determinadas áreas geográficas, que podem datar de períodos pré-históricos,
 o que pode torná-la em parte irmã ou filha de antigas práticas e cultos
 xamânicos. Historicamente, o papel social das bruxas tradicionais era 
basicamente a prestação de auxílio à população: como adivinhas, parteiras, 
curandeiras, conselheiras ou até mesmo alcoviteiras.
A literatura pré inquisitorial apresenta a bruxa, entretanto, como uma figura
 cercada de brumas: uma eremita das florestas (imagem das bruxas preservada
 nos contos de fadas), moradora de ilhas misteriosas (como Circe) ou 
personagens de quem pouco se esclarece (contos árabes). Poderia curar 
ou matar através de poções ou filtros e agia em concordância com a moralidade
 típica da natureza, incompreensível aos não bruxos, no seu entender, indomada, caótica e imprevisível. Entre as artes pelas quais são conhecidas em tais 
contos estão a necromancia (ou nigromancia), que é o contato com os 
espíritos dos mortos, elementais, deidades e demais entidades presentes
 em outros planos da existência, a adivinhação e o conhecimento do potencial
 das ervas. Poderiam concomitantemente servir como sacerdotisas de algum culto
, mas não necessariamente, sobrevivendo à ação do tempo e mudança da
 mentalidade do povo, e até mesmo à chegada de novas religiões, às quais
 teriam se adaptado para dar continuidade a esta tradição. Como tal, em tais
 contos a Bruxaria Tradicional não se definiria necessariamente como religião,
 mas como tradição circunscrita a um limite geográfico.

Porém, paralelamente às histórias mitológicas e de ficção, algumas poucas
 linhagens de bruxaria tradicional sobreviveram à inquisição e, como toda
 associação de pessoas, evoluíram ao longo do tempo. Tenha ou não sido
 importante às bruxas e bruxos da Antiguidade e da Idade Média, hoje é 
indubitável que o cerne da bruxaria tradicional é a interação com as deidades,
 da mesma forma que qualquer religião.
A bruxaria moderna, por outro lado, embora se relacione firmemente com a
 Bruxaria Tradicional, surge historicamente com Gerald Gardner, com a
 criação da Wicca no ano 1950 da Era Comum. Apesar de a bruxaria
 tradicional ter absorvido elementos modernos às suas raízes folclóricas e
 evoluindo continuamente, seu eixo fundamental é bastante distinto do da
 bruxaria moderna, pois Gardner não apenas adotou novos elementos, 
mas tornou alguns destes em bases fundamentais da Wicca, amalgamando-os
 de forma indissolúvel em um hibridismo com cultos pagãos e conceitos 
de origem oriental. Agrava-se a confusão entre bruxaria moderna e bruxaria
 tradicional ao ter se tornado recorrente o uso da expressão "wicca tradicional"
 para designar aqueles cuja linhagem iniciática remonta a Gerald Gardner.

A Bruxaria, sendo caracterizada pela liberdade de pensamento, acaba por 
apresentar um amplo leque de linhas de pensamento e de vertentes de 
características bastante distintas, entretanto, alguns elementos em comum
 podem ser apresentados a fim de que se tenha melhor compreensão do 
significado da bruxaria. Elencamos dois princípios comuns, em especial, 
que ao mesmo tempo que ajudam a compreensão, afastam conceitos
 equivocados calcados em histórias infantis e preconceitos medievais 
à prática da bruxaria.
  • O Respeito ao Livre-Arbítrio - Nenhum verdadeiro bruxo buscará doutrinar 
  • aqueles que têm outro credo. Para os bruxos, a fé só é verdadeira se
  •  resulta de escolha individual e espontânea. Nenhum verdadeiro bruxo 
  • realizará qualquer tipo de magia no intuito de se beneficiar de algo que
  •  prejudicará outra pessoa. Para os bruxos, cada um tem seu próprio desafio a enfrentar. Usar de qualquer subterfúgio para escapar dos desafios que se
  •  apresentam é apenas adiar uma luta que terá de ter lugar nesta ou em 
  • outras vidas. Adiar problemas é o mesmo que acumulá-los para as próximas encarnações
  • A Comunhão com a Natureza - O verdadeiro bruxo respeita a natureza, e por
  •  natureza ele entende absolutamente tudo o que não é feito pelo homem,
  •  inclusive os minerais. Quando preserva a natureza, suas preocupações 
  • não são a viabilidade da manutenção da vida humana na Terra, o verdadeiro
  •  bruxo respeita a natureza simplesmente porque se sente parte dela,
  •  porque a ama. Os bruxos não acham que a natureza está à sua disposição.
  •  Os homens, os minerais, os vegetais e toda a espécie de animal são apenas
  •  colegas de caminhada, nenhum mais ou menos importante que o outro. 
  • Ainda assim, matam insetos que lhes incomodam e arrancam mato que
  •  cresce nos canteiros de flores sem dramas de consciência. Não são falsos 
  • em suas crenças nem românticos idealistas. Acreditam que conflitos fazem 
  • parte da natureza

A caça às bruxas foi uma perseguição social e religiosa que começou no final
 da Idade Média e atinge seu apogeu na Idade Moderna. O mais famoso manual
 de Caça às Bruxas é o Malleus Maleficarum (Martelo das Feiticeiras), de 1484.
No passado os historiadores consideraram a Caça às Bruxas européia como um
 ataque de histeria supersticiosa que teria sido forjada e espelhada pelo 
Cristianismo. Seguindo essa lógica, era "natural" supor que a perseguição teria
 sido pior quando o poder da igreja era maior, ou seja: antes da Reforma
 Protestante dividir a cristandade ocidental em segmentos conflitantes. 
Nessa visão, embora houvesse ocorrido também julgamentos no começo 
do período moderno, eles teriam sido poucos se comparados aos supostos 
horrores medievais. Pesquisas recentes derrubaram essa teoria de forma bastante
 clara e, ironicamente, descobriu-se que o momento mais forte da histeria contra 
as bruxas ocorreu entre 1550 e 1650, juntamente com o nascimento da celebrada "

Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno reconheciam 
o poder das bruxas e, em função disso, formularam leis proibindo que crimes
 fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção,
 e podemos encontrar as caças às bruxas desde o auge da civilização babilônica.
 Esta suspeita costumava recair sobre as mulheres estrangeiras e suas estranhas
 práticas.
As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. Pouco
 depois de 1300, na Europa Central, começaram a surgir rumores e pânico acerca
 de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através 
de magia e envenenamento. Falava-se de conspirações por parte dos muçulmanos e
 de associações entre judeus eleprosos ou judeus e bruxas. Depois da enorme devastação decorrente da peste negra (que vitimou 1/3 da população européia
 entre 1347 e 1350) esses rumores aumentaram e passaram a focar mais em
 supostas bruxas e "propagadores de praga".
Casos de processo por bruxaria foram aumentando lentamente, mas de forma
 constante, até que os primeiros julgamentos em massa apareceram no Século XV.

A partir dos anos 70 do século XX, os historiadores passaram a estudar
 detalhadamente os registros históricos de julgamentos, ao invés de confiar
 apenas
 nos relatos dos casos mais famosos e outras fontes pouco seguras. A nova
 metodologia trouxe mudanças significativas na compreensão que se tinha
 deste período. Vejamos algumas das ideias chaves dessa nova visão:
A "Caça às Bruxas" na Europa começou no fim da Idade Média e foi um
 fenómeno religioso e social da Idade Moderna. A situação assumiu tamanha 
dimensão, também devido às populações sofrerem frequentemente de maus
 anos agrícolas e de epidemias, resultando elevada taxa de mortalidade, 
e dominadas pela superstição e pelo medo. A maior parte das vítimas foram
 julgadas e executadas entre 1550 e 1650. A quantidade de julgamentos e a
 proporção entre homens e mulheres condenados poderá variar consideravelmente
 de um local para o outro. Por outro lado, 3/4 do continente europeu não
 presenciou nem um julgamento sequer. A maioria das vítimas foram 
julgadas e executadas por tribunais seculares, sendo os tribunais locais, 
foram de longe os mais intolerantes e cruéis. Por outro lado, as pessoas
 julgadas em tribunais religiosos recebiam um melhor tratamento, tinham 
mais chances de poderem ser inocentadas ou de receber punições mais brandas.
O número total de vítimas ficou provavelmente por volta dos 50 mil, e destes,
 cerca de 25% foram homens. Mulheres estiveram mais presentes que os homens,
 e também enquanto denunciantes, e não apenas como vítimas. A maioria das 
vítimas eram parteiras ou curandeiros; mas a maioria não era bruxa. A grande 
maioria das vítimas eram da religião cristã, até porque a população pagã na
 Europa na época da caça às bruxas, era muito reduzida.
Estudos recentes vêm apontar que muitas das vítimas da "Caça as Bruxas",
 bem como de muitos "casos de endemoniados", teriam sido vítimas de uma intoxicação. O agente causador era um fungo denominadoClaviceps purpurea,
 um contaminante comum do centeio e outros cereais. Este fungo biossintetiza
 uma classe de metabólitos secundários conhecidos como alcalóides da 
cravagem e, dependendo de suas estruturas químicas, afectavam profundamente
 o sistema nervoso central. Os camponeses que comeram pão de centeio
 (o pão das classes mais pobres) contaminado com o fungo, eram envenenados
 e desenvolveram a doença, actualmente denominada de ergotismo.
Em alguns casos, também verificou-se alegações falsas de prática de "bruxaria"
 e de estar "possuído pelo demônio", com o fim de se apropriar ilicitamente 
de bens alheios ou como uma forma de vingança


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